Art déco no MAM relembra um dos vários choques da polêmica Semana de Arte Moderna de 1922, com abertura da família Gomide-Graz
Dois anos antes da Semana de Arte Moderna de 1922, as obras do suíço John Graz não foram muito bem compreendidas. E agora, o público poderá rever ou ver pela primeira vez seu estilo Art Déco no MAM. Com curadoria de Maria Alice Milliet, ela revela que a exposição dele e de Regina Gomide Graz não entusiasmou o público. Tanto é que as pessoas não estavam dispostas a comprarem seus quadros e móveis modernistas.
Além disso, as casas da capital ainda eram provincianas e demoraria para que olhassem com entusiasmo para as criações da dupla que voltara de uma Europa que efervescia em torno do art déco.
Art déco no MAM
Suas composições geométricas em trabalhos têxteis e no mobiliário da dupla e de Antonio Gomide, irmão de Regina, se tornaram seminais do evento que marcou o modernismo em São Paulo.
Mas agora elas serão retomadas na mostra “Desafios da Modernidade – Família Gomide-Graz nas Décadas de 1920 e 1930”. A exposição será inaugurada no Museu de Arte Moderna de São Paulo, o MAM, na semana que vem.
Composição da mostra
A mostra trará cerca de 80 obras da família, que ditou tendência de estilo no Brasil. Com uma gama diversa de produções, como painéis, móveis e colchas.
Também haverá montagens de salas inteiras e um documentário com ambientes produzidos na época que dão o tom da burguesia paulistana já da década de 1930.
Destaques da exposição de art déco
Merece destaque a obra “mulher com Galgo”, espaço que traz uma aerografia feira em veludo de Regina Gomide Graz que traduz a influência do art déco na produção da brasileira.
A curadora da mostra conta que é uma mulher que aparece na obra. Sendo assim, ela é como alguém que está no controle da situação.
“Absolutamente tudo está dentro do estilo. Pelo tema, é um momento de grande emancipação da mulher, em que ela usa os vestidos curtos, corta os cabelos, reivindica, inclusive, o voto feminino.”
Figura central na exposição art déco
Além disso, a retomada do trabalho de Regina Graz, que teve peças não expostas na Semana de 22, é figura central da mostra do MAM. Milliet diz que ela faz parte da geração de mulheres que, naquele tempo, começou a atuar em áreas que estavam reservadas aos homens. E que até hoje, sua produção não foi devidamente trabalhada em mostras.
“A maior parte das obras que ela fez, por serem têxteis, desapareceram. As pessoas compravam na época e depois achavam que havia saído de moda. E então as doavam ou as descartavam.”
Participação não aconteceu
Apesar de ter sido noticiada de que Regina integraria a Semana de 22, a
A curadora acredita que isso se deu também pela natureza das obras. Para Milliet, o público não entendia bem como esse trabalho, considerado feminino, podia entrar numa exposição de arte como aquela, que pretendia chocar a sociedade paulistana.
Por outro lado, John Graz se consagrou como introdutor do art déco no país. Já Regina pesquisou tecelagens indígenas do alto Amazonas e ainda procurou por padrões para reproduzir em suas tapeçarias.
Representações indígenas
Ainda sobre os indígenas, havia a representação dos próprios, como por exemplo, no painel da década de 1930 chamado “Índios”. Trata-se de uma tapeçaria de parede formada com retalhos.
Contudo, a produção voltada para os povos originários configura exatamente o espírito dessa geração, que buscava se aproximar de algo que pudesse ser visto como um símbolo nacional.
Sobre isso, o fundador do Instituto Art Déco Brasil e curador do B-MAD, Márcio Alves Roiter, afirma:
“O Brasil tem uma plêiade de estrangeiros por causa das guerras. A gente recebeu a herança do art déco, e eles chegavam aqui e queriam olhar para o Brasil, não queriam se repetir.”
O museu Berardo Art Deco foi recém-inaugurado em Lisboa e é dedicado a esse estilo de arte com figuras geométricas e labirínticas.
Coleção
A mostra de art déco no MAM será uma chance de conhecer uma herança que está na coleção de 400 pranchas de nanquim de August Herboth, por exemplo. O franco-alemão chegou ao Rio de Janeiro em meados dos anos 1920 e se impressionou com os artefatos que viu no Museu Nacional, especialmente os marajoaras.
Milliet sente que esta mostra pode ser o retorno de um de “olhar de revisão para a Semana de 22”.
“Estamos percebendo lacunas, como é o caso da Regina, e recuperando a produção.”
Serviço
“Desafios da Modernidade – Família Gomide-Graz nas Décadas de 1920 e 1930”
Quando De 25/5 a 15/8. Ter. a dom.: 12h às 18h
Onde No Museu de Arte Moderna de São Paulo – Parque Ibirapuera – av. Pedro Álvares Cabral, portões 1 e 3
Preço R$ 20. Gratuita aos domingos
*Foto: Divulgação