Em meados de 2025, o governo dos Estados Unidos anunciou medidas tarifárias que elevaram drasticamente as tarifas sobre produtos brasileiros importados — até 50 % em muitos casos. O argumento oficial sustenta que o Brasil estabelece barreiras comerciais excessivas, mas o movimento criou tensão diplomática, riscos para cadeias produtivas e exigiu respostas urgentes do Brasil.
Embora o impacto agregado seja avaliado como moderado, alguns segmentos industriais exportadores enfrentam ameaça real de retração. Em paralelo, o governo brasileiro já lançou pacotes de compensações para mitigar os efeitos. Resta saber se essas medidas serão suficientes para evitar desindustrialização setorial e efeitos duradouros na economia.
O Tarifaço e a Previsão de Impacto
Em nota pública, a SPE / Ministério da Fazenda estimou que o impacto das tarifas dos EUA será pequeno no agregado: uma queda de 0,2 ponto percentual no PIB entre agosto de 2025 e dezembro de 2026. Segundo o órgão, os cálculos não incorporam efeitos indiretos de confiança, crédito ou choques financeiros, que poderiam aumentar o impacto negativo.
Mesmo com o efeito “modesto” no todo, diversos setores exportadores estão mais expostos. Os segmentos apontados como mais vulneráveis envolvem produtos manufaturados de média e alta intensidade tecnológica, bem como aqueles mais integrados às cadeias globais.
Setores sob pressão
Madeira, papel e celulose
Embora alguns produtos desses setores tenham sido isentos das tarifas adicionais — como celulose e ferro-níquel —, muitos componentes, embalagens ou insumos conectados sofreram de forma indireta. O setor brasileiro exporta volumosas quantidades de celulose para os EUA, e a incerteza comercial já freou novos contratos ou aumentos de escala.
Além disso, tarifas sobre embalagens, sacos industriais ou materiais utilizados na cadeia logística encarecem custos mesmo para produtos isentos.
Máquina, metalurgia, químicos e têxtil
Máquinas, metalurgia e bens de capital são citados entre os mais expostos nas estimativas da SPE, dada a sua arbítrio de exportação e dependência de insumos globais. No setor químico e têxtil, imposição de tarifas maiores tende a ferir a competitividade nas exportações e gerar reestruturações de produção.
Queda de confiança da indústria
Já se percebe reflexo nas expectativas dos empresários. Em julho/2025, o Índice de Confiança da Indústria (ICI-FGV) recuou 2,0 pontos, atingindo 94,8 — menor nível de 2025 —, em meio às incertezas provocadas pelas tarifas americanas. A queda foi atribuída, em parte, ao temor de novas restrições comerciais e ao impacto sobre demanda externa.
Respostas do Governo Brasileiro
Pacote de apoio e crédito para exportadores
Para compensar prejuízos, o governo brasileiro lançou em agosto de 2025 um plano com medidas emergenciais. Entre elas:
- Linha de crédito de R$ 30 bilhões via Fundo Garantidor de Exportações (FGE) / BNDES para empresas que exportam produtos afetados.
- Suspensão ou postergação de tributos para setores exportadores como forma de aliviar o custo competitivo.
- Realocação de compras governamentais, comprando produtos originalmente exportados para os EUA e direcionando-os para alimentação escolar, hospitais, etc.
Essas iniciativas têm caráter transitório, dependendo de aprovação no Congresso para manutenção.
Isenções pontuais e espécie de desagravo comercial
Além disso, os EUA anunciaram a retirada de tarifas extras para celulose e ferro-níquel em setembro de 2025, retornando ao status anterior de tributação base. Essa medida ajuda a reduzir pressão sobre esses setores, embora não cubra toda a gama de produtos brasileiros exportados.
O Brasil também invocou a Lei da Reciprocidade Comercial, promulgada em 2025, que autoriza medidas retaliatórias proporcionais contra países que imponham barreiras injustas. Em resposta, o governo sinalizou que novas tarifas sobre produtos dos EUA podem ser estudadas caso não haja avanços diplomáticos.
Por fim, o Brasil levou o caso à Organização Mundial do Comércio (OMC) e mantém interlocução diplomática ativa com os EUA para buscar reequilíbrio.
Riscos e Contrapontos
- Impacto indireto subestimado: os números oficiais não contemplam efeitos de confiança, crédito, câmbio ou retração de investimentos estrangeiros.
- Volatilidade cambial: medida pode gerar fuga de capital e desvalorização do real, pressionando a inflação interna.
- Risco de escalada tarifária: se nenhuma via de negociação avançar, podem ocorrer retaliações mútuas, aprofundando disputa comercial.
- Setores menos expostos ou produtos com alta agregação tecnológica podem encontrar rotas de diversificação de mercado e mitigar perdas.
- Respostas governamentais tardias ou insuficientes podem agravar impactos para fabricantes médios e pequenos exportadores.








