O Diretor-Presidente do Grupo Victória analisou como a taxa pode encarecer o financiamento, mas que o setor tem possibilidades de adaptação
Com a taxa Selic fixada em 15% desde junho de 2025, os efeitos dos juros altos já são sentidos no mercado imobiliário. A decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) pressiona o consumo, encarece o crédito e influencia diretamente a compra e o aluguel de imóveis no país.
A taxa Selic funciona como o principal referencial de juros no país e é utilizada como instrumento de controle da inflação. Quando ocorre um aumento na Selic, os financiamentos, empréstimos e compras parceladas tendem a ficar mais caros, dificultando o acesso ao crédito.
No mercado imobiliário, isso significa que as parcelas de financiamentos ficam mais caras e o número de aprovações pode cair, especialmente nos contratos atrelados à própria Selic ou ao CDI (Certificado de Depósito Interbancário).
Juros altos abrem espaço para fundos imobiliários
Apesar do aperto no crédito, nem todo o setor foi impactado de forma negativa. Os fundos imobiliários, especialmente os chamados fundos de recebíveis, encontraram espaço para crescer mesmo com a Selic em alta. Diferente da incerteza que ronda os financiamentos, esses fundos conseguiram se adaptar ao cenário oferecendo retornos maiores e riscos mais controlados.
Com gestão ativa e boas estratégias, os fundos têm aproveitado o momento para realizar vendas pontuais de imóveis e, assim, aumentar o chamado dividend yield — indicador que mostra o quanto um fundo ou empresa distribui de lucros em relação ao preço das cotas ou ações.
O que são os Fundos Imobiliários (FIIs)
Os fundos imobiliários são uma alternativa para quem deseja investir no setor sem precisar comprar um imóvel. Funcionam como um condomínio de investidores, onde os recursos são aplicados em empreendimentos como shoppings, hospitais, prédios comerciais ou até mesmo em títulos de crédito ligados ao mercado.
Os FIIs têm suas cotas compradas e vendidas diretamente na bolsa, o que permite que investidores com menor capital também participem. Um dos principais diferenciais desses fundos é o pagamento de rendimentos mensais, que, em muitos casos, são isentos de imposto de renda para pessoas físicas.
Selic alta também interfere nos aluguéis
A influência da Selic não se restringe à compra e venda de imóveis. O mercado de aluguéis também sente os efeitos da taxa básica de juros. Segundo um relatório da Fundação Getulio Vargas (FGV) publicado em julho de 2025, os preços dos aluguéis residenciais mostraram comportamentos distintos nas principais capitais do país.
Entre maio e junho, São Paulo deu uma guinada no mercado imobiliário, saindo de uma queda de 6,02% para uma alta de 3,28%. Enquanto isso, Porto Alegre registrou uma desaceleração, com o crescimento diminuindo de 3,81% para 0,96%. Belo Horizonte teve desempenho negativo, passando de uma alta de 4,83% para uma queda de 1,34%. No Rio de Janeiro, a retração foi ainda mais forte, com os preços caindo de 3,01% para 3,23%.
No balanço dos últimos 12 meses, três das quatro capitais analisadas mostraram alta nos preços. Belo Horizonte liderou, com aumento de 7,98% para 9,56%. O Rio de Janeiro subiu de 3,98% para 5,93%, e Porto Alegre, de 5,82% para 6,02%. São Paulo foi a única a registrar desaceleração, passando de 3,24% para 2,97%.
Dados do IVAR mostram desaceleração geral
Os números são do Índice de Variação de Aluguéis Residenciais (IVAR), calculado pela FGV com base em contratos de locação coletados de administradoras de imóveis. O índice mostra que, em junho de 2024, a alta acumulada em 12 meses era de 10,66%. Agora, com os juros mais altos, o aumento caiu para 5,54%.
Apesar da desaceleração nos aluguéis, a compra de imóveis ainda se mostra mais atraente para muitos consumidores, mesmo com o crédito mais caro. Indicadores de vendas e concessão de crédito imobiliário revelam que a procura por aquisição de imóveis segue mais forte do que a busca por locações.
Empresário de negócios imobiliários
Elon Gomes de Almeida, nascido em 1962 em Barra Mansa (RJ), construiu uma carreira de destaque nos setores de saúde e mercado imobiliário. Iniciou sua trajetória profissional como corretor de planos de saúde em 1985 e, posteriormente, fundou o Grupo Aliança (atualmente Grupo Victória), agora focado exclusivamente no mercado imobiliário de Brasília-DF.
Suas principais empresas atuantes no mercado de saúde suplementar, como a GA Consultoria e a Aliança Administradora, foram incorporadas pelo Grupo Qualicorp entre 2012 e 2017. A partir daí, Elon Gomes de Almeida voltou-se para o mercado imobiliário em Brasília e, mais recentemente, em São Paulo, liderando empreendimentos por meio de diversas empresas.
Foto: https://unsplash.com/pt-br/fotografias/um-par-de-edificios-altos-sentados-um-ao-lado-do-outro-LJbcWwgIr8w