A forma de tomar decisões no mercado financeiro mudou radicalmente nos últimos anos. Ferramentas de análise de dados, inteligência artificial e automação estão permitindo que gestores identifiquem oportunidades e avaliem riscos com precisão inédita.
Segundo a Febraban, os bancos brasileiros devem investir R$ 47,8 bilhões em tecnologia até 2025, sendo 61% voltados à inteligência artificial, analytics e big data. No cenário global, mais de 90% dos gestores de investimentos já utilizam ou planejam incorporar soluções de IA, enquanto 54% já aplicam essas ferramentas ativamente.
A economista Camila de Freitas Aichinger, especialista em gestão de investimentos e referência em estratégias de inovação, observa que essas mudanças vão muito além da tecnologia. “Estamos diante de uma revolução que redefine a forma como tomamos decisões financeiras e gerimos portfólios”, afirma. Para ela, os dados não substituem a experiência, mas ampliam a capacidade analítica dos gestores.
Inteligência de dados: precisão e análise estratégica
O uso de algoritmos e inteligência de dados tem se tornado central na gestão de ativos. Estudos recentes indicam que 65% das gestoras de investimentos já utilizam inteligência artificial para análise de portfólios, enquanto 50% aplicam algoritmos para otimização de riscos e retorno. O mercado brasileiro de IA deve alcançar R$ 95,1 bilhões ainda em 2025, mostrando a dimensão do investimento tecnológico.
Camila reforça que os algoritmos oferecem velocidade e profundidade na análise, mas precisam ser interpretados com visão estratégica. A tecnologia é uma ferramenta que amplia nossa capacidade, mas a decisão final exige conhecimento e experiência.
Além de eficiência, a inteligência de dados também permite personalizar portfólios de acordo com o perfil do investidor, identificar padrões de comportamento e antecipar cenários de volatilidade. “Não basta ter acesso a grandes volumes de informação; é necessário estabelecer critérios claros e filtros éticos para transformar dados em decisões inteligentes”, explica a economista.
Inovação e governança: o equilíbrio necessário
Uma pesquisa da Systems, Applications, and Products in Data Processing (SAP), empresa multinacional alemã de software corporativo, especializada em soluções de gestão empresarial, análise de dados e inteligência artificial, aponta que 44% das empresas brasileiras já obtêm resultados concretos com IA, enquanto outros 46% esperam impactos significativos até o final de 2025.
Para Camila, o valor da inovação está na sua aplicação estratégica. “Não se trata de adotar tecnologia por modismo, mas de usá-la para gerar resultados confiáveis. A inovação precisa estar sustentada por processos claros e objetivos bem definidos”.
Ela complementa que a automação, sem governança adequada, pode gerar riscos quando não há critérios e supervisão. Nesse caso, a tecnologia pode induzir a decisões equivocadas, por isso é fundamental que os gestores saibam integrar inovação com responsabilidade.
O fator humano continua decisivo
Apesar da tecnologia avançada, a experiência humana segue sendo insubstituível. “A inteligência artificial nos oferece velocidade e capacidade analítica, mas o julgamento humano é essencial”, afirma Camila. Segundo ela, a sensibilidade do gestor, o discernimento ético e a leitura crítica de cenários complexos não podem ser replicados por algoritmos.
Momentos de crise reforçam essa necessidade. Para a economista, em situações de alta volatilidade, modelos preditivos podem indicar caminhos, mas apenas a análise humana permite ajustar decisões de forma segura e estratégica.
Ela destaca que o diferencial competitivo no mercado financeiro continuará sendo a capacidade de unir dados robustos com experiência prática. “Gestores que combinam inovação tecnológica com visão estratégica terão vantagem clara no longo prazo”, conclui.
O futuro da gestão de investimentos
O setor financeiro brasileiro caminha para uma integração cada vez maior entre tecnologia e expertise humana. O mercado de IA generativa no Brasil deve alcançar quase US$ 1 bilhão em 2025, com crescimento médio anual de 37% até 2031. Ferramentas de análise preditiva, personalização de portfólios e automação devem se tornar rotina, transformando a forma de investir.
“O futuro da gestão de investimentos não é sobre escolher entre tecnologia e humanos. O verdadeiro diferencial será a capacidade de integrar ambos de forma inteligente, estratégica e ética”, destaca Camila de Freitas Aichinger.
O cenário é claro: gestores que conseguirem unir inovação tecnológica e discernimento humano estarão preparados para enfrentar a volatilidade do mercado e aproveitar oportunidades estratégicas. Em última análise, a transformação digital não substitui o olhar humano, ela o potencializa.
Sobre Camila de Freitas Aichinger

Camila Aichinger é Mestre em Economia pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Com mais de 20 anos de experiência no mercado financeiro, a economista já ocupou posições estratégicas de liderança, incluindo CEO e COO da Caixa Seguridade, onde conduziu reestruturações organizacionais, operações de fusões e aquisições (M&A) e processos de abertura de capital.
Atualmente, lidera a estratégia comercial da holding financeira OBB Capital, estruturando operações de asset e wealth management, conduzindo projetos estratégicos de alto impacto, combinando visão analítica e expertise em transformação organizacional para gerar valor sustentável aos investidores.








